(Re)caminhos da história acreana
- Jefferson Cidreira
- 25 de fev. de 2017
- 3 min de leitura
Olá, caros leitores.
O ano de 2017 “começa” e ainda há paradigmas que merecem um olhar mais crítico e, logo, analítico sobre a questão da Amazônia Sul Ocidental, a qual faz parte da grande Pan-Amazônia, que envolve os países vizinhos ao Brasil. Neste caso, a Amazônia Sul Ocidental diz respeito, por exemplo, ao estado do Acre. Tendo nosso recorte espacial, agora delinearemos nosso recorte espacial, sempre lembrando o que o grande historiador inglês nos disse sobre a função do historiador, segundo Eric Hobs

bawm “é vital o historiador lutar contra a mentira. O historiador não pode inventar nada, e sim revelar o passado que controla o presente às ocultas”. Tomando como nosso ponto de partida essa reflexão e entrelaçando o passado e o presente, num indo e vindo, remadas pelo tempo histórico e por cada contexto social, visões de um tempo, vimos trazer, mais uma vez, a incessante luta pela (des) construção de um isolamento à Amazônia.
Como já mencionamos em outros artigos, a Amazônia Sul Ocidental é alvo de visões retorcidas construídas durante séculos, porém, com maior destaque, para os escritos euclidianos sobre a região. Em sua viagem de reconhecimento ao Purus, 1905, e, posteriormente em sua obra À margem da história, Euclides, com sua visão de progresso, liberal, enfim, uma visão de outro lugar, cimenta ao Território acreano as representações de “terra sem história”, “inferno verde”, lugar de isolamento. E como um autor que seria lido e relido, influenciou essas representações ao Acre e sua população. Tais construtos, hoje, mais de um século depois, são notados na “descriminação” e postagens nas redes sociais, desde o antigo Orkut, MSN, quanto no tão usado facebook.
E, assim, uma dúvida nos recorre: como desmistificar e/ou combater esses discursos? Será que o combate tem que ser de palavras torpes de baixo calão em um digitar frenético dos moradores da região em resposta aos comentários das outras regiões do Brasil?
O discurso cristão nos pode guiar bem, por mais que seja difícil controlar a sede incontrolável de revidar a alguém que o feriu ou agrediu. Porém, nesta hora, devemos não entrar na provocação e muito menos revidar com pedras as pedras lançadas sobre nós. Nessa questão, cabe aos estudiosos, pesquisadores, acadêmicos etc subverter o discurso e mostrar um novo olhar sobre a região, assim como nos assegura Silviano Santiago (2000), “vivendo entre a assimilação do modelo original, isto é, entre o amor e o respeito pelo já-escrito, e a necessidade de produzir um novo texto que afronte o primeiro e muitas vezes o negue” (SANTIAGO, 2000, p. 23).
Homi Bhabha (1998), ao observar e analisar os modos de vida, a cultura, e, logo, o espaço (grifo nosso), emite suas percepções, suas representações erguidas em suas culturas de origem, carregadas de juízos de valores, por consequência, interferindo na compreensão do espaço, dos costumes e modos de vida estranhos a sua cultura. Sendo assim, nada melhor que o homem amazônico lance seu olhar, o olhar daquele que se relaciona com a natureza, que é influenciado por ela e a influencia, de acordo com uma acepção de Eric Dardel, para assim desmistificar, através de escritos embasados e analisados cientificamente, esses estereótipos negativos que se têm da região. E como pesquisadores esta é nossa intenção, nosso papel, demonstrar que há culturas diferentes, que a Amazônia nunca foi isolada, pois, como exemplo recorrente e histórico, temos a migração nordestina para este Território e a disseminação, miscigenação cultural tornando a região rica em cultura e diversidade.
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